domingo, 24 de abril de 2011

Com reservas de luxo, Real mostra profundidade. Mas Guardiola achou seu antídoto

Escrevo este post do avião. Sei, portanto, que o Real Madrid ganhou de 6 a 3 do Valencia, mas não assisti ao jogo. Vi as escalações do Real e do Barcelona, no jogo que faria posteriormente contra o Osasuna, e muitos titulares foram reservados.

Hoje, Kaká e Higuaín não são titulares de Mourinho. Seriam, talvez, se a temporada tivesse se desenrolado de maneira diferente. A dupla marcou cinco gols em Valência e isso deixa escancarado um fator que pode, por que não, entre tantos outros, ser decisivo no duelo de semifinais de Champions League. O Real tem um elenco mais recheado, e Mourinho tem mais opções quando olha para o banco de reservas do que Guardiola.

A situação não era essa em dezembro. Para o ataque, Mourinho tinha apenas Benzema - Higuáin e Kaká machucados, Adebayor não havia sido contratado. Já Guardiola tinha Villa e Pedro em plena forma, Bojan no banco. Não era muito, mas é bem mais do que a situação atual.

A final da Copa do Rei, da qual falarei um pouquinho mais ainda nesse post, não mostrou somente que o Real encontrou uma maneira para encarar o Barcelona. Mostrou um time superior ao outro fisicamente e com mais opções.

O Barça tem uma maneira específica de jogar, que é muito bonita e tem que ser apreciada por quem gosta de um futebol ofensivo e envolvente. Mas essa maneira de jogar é quase única e em eliminações no passado, como contra a Inter na última Champions ou o Liverpool, em 2007, e o Manchester, em 2008, faltou ao Barça ter alternativas. Em outras palavras, faltou saber jogar feio para tentar o resultado de outra maneira.

Na prorrogação da última quarta, Pique foi à área algumas vezes. O time tem só dois jogadores altos, ele e Busquets, e isso é um problemão na hora do aperto. Se o Real estivesse perdendo o jogo, Mourinho poderia colocar Kaká, Benzema, já tinha Adebayor… bola para a área e seja o que Deus quiser. O jogo contra o Osasuna não deve ter mostrado caminho algum a Guardiola. Não há alternativas. Ou o Barcelona ganha do seu jeito ou não ganha.

Chegou perto disso na quarta-feira e só não venceu porque Casillas parece estar retomando de Júlio César a posição de melhor goleiro do mundo. Iker foi o melhor goleiro do planeta, na minha modesta opinião, entre 2007 e 2009, até o brasileiro, que já vinha atuando muito bem, se destacar demais ano passado. Casillas salvou o Real Madrid no passado recente de vexames ainda maiores do que os que o clube deu. E quarta, contra o Barcelona, fez três defesas impressionantes no segundo tempo em chutes de Messi, Iniesta e Pedro.

Voltando ao Barcelona. O segundo tempo teve um time mais fiel ao seu estilo porque Daniel Alves pôde avançar. O lateral brasileiro ficou preso no jogo do sábado passado e no primeiro tempo da decisão, e Pep Guardiola soube fazer a leitura correta. O Barça tem Daniel Alves como um atacante durante toda a temporada, isso não pode mudar nos duelos contra o Real Madrid.

Mourinho encontrou uma maneira de incomodar a posse de bola culé congestionando o meio de campo, e a única maneira de descongestionar é "esticar" o campo, abrir o jogo. No segundo tempo, o Barça voltou a ter Daniel Alves atacando, bem aberto pela direita. Ele não funcionou, porque Marcelo e Di María estiveram muito atentos e concentrados o tempo todo. Mas a ameaça serviu para o meio ficar mais aberto, e Messi e Iniesta conseguiram receber bolas e criar jogadas, que, em regra, eram concluídas pelo lado esquerdo do ataque, onde Pedro deitou e rolou para cima de Arbeloa.

No sábado, depois de comentar e rever o 1 a 1 pela liga espanhola, fiquei com a sensação de que o Real Madrid havia encontrado uma maneira de atrapalhar o Barcelona. E escrevi aqui no blog que, talvez, Ozil fosse a peça que faltava para o time não só defender, mas criar jogo. Mourinho pensou da mesma maneira e, com o alemão, pressionou e atacou muito no primeiro tempo da final da Copa do Rei. Ozil participou das quatro jogadas perigosas de ataque do Real, chances claras de gol em um tempo em que o formato do time lembrou a Inter de Milão da primeira semifinal do ano passado.

Mas a contra partida é que, apesar do título do Real Madrid, Guardiola pode ter encontrado no segundo tempo da decisão o antídoto. Com o campo esticado, o Barcelona teve mais espaços para fazer seu jogo da maneira que gosta, dominar as ações e não dar chance para o rival. O gol não saiu? Não, não saiu. Mas só porque Casillas brilhou demais e porque Pedro estava cinco ou dez centímetros impedido no lance em que conseguiu vazar o goleiro madrilenho.

Os dois, portanto, já saber o que fazer e como fazer. E é nesse cenário que chegamos a duas partidas de Champions que serão emocionantes e apaixonantes. Erros individuais grotescos, falhas de árbitros, detalhes assim, enfim, podem decidir o classificado para a decisão. Um reserva inspirado também.

Por Julio Gomes, blogueiro do ESPN.com.br, de Madri (Espanha), espn.com.br, Atualizado: 24/4/2011

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