Quando o São Paulo conquistou três títulos entre 2006 e 2008, essa sequência ganhou um aspecto hegemônico. Agora, com um distanciamento desse inédito tricampeonato, um outro cenário fica bem claro quando se fala em Campeonato Brasileiro: o técnico Muricy Ramalho é o homem a ser batido.

Desde a adoção do sistema de pontos corridos, em 2003, o técnico só não terminou a competição entre os dez melhores em 2004, quando escorregou com o São Caetano, despedindo-se da ex-grande surpresa do país com um 18º lugar. Mas essa é apenas uma nota ruim. Ao todo, seus times terminaram na liderança em mais de um terço das rodadas disputadas nas últimas oito temporadas. Neste período, seu retrospecto final impressiona: são quatro títulos, incluindo o do ano passado com o Fluminense, um vice em 2005 com o Internacional e um quinto lugar com o Palmeiras em 2009.

Dá para imaginar, então, o quão animados estão os torcedores do Santos para o início do Brasileirão, a partir deste sábado. Especialmente depois de já percebido o impacto que o treinador pode causar. Desde que assumiu seu comando, a equipe paulista disputou 12 jogos, somando oito vitórias e quatro empates, números que representam uma classificação sofrida na primeira fase da Copa Libertadores e a chegada, agora, à semifinal do torneio, além da conquista do Campeonato Paulista. Famoso por seu ataque profícuo no ano passado, o time agora ganhou consistência defensiva invejável, tendo sofrido apenas quatro gols, mas sem deixar de investir no ataque sob o comando de um Neymar em constante evolução. “Ele chegou e nosso time ficou sete jogos sem tomar gol. Ele é diferenciado”, resumiu o jovem craque santista.

Para o Brasileirão, porém, Muricy sabe que os desafios são bem diferentes. O técnico costuma falar que é importante abrir o campeonato bem, em ritmo forte, para ter margem de erro durante sua longa extensão, que pede “planejamento, logística e plantel” num campeonato “único no mundo”, com muitos aspirantes ao título. Desta vez, é justamente no início de campanha que sua equipe pode encontrar dificuldades, devido à fase final simultânea da Libertadores. Para a primeira rodada, seus principais atletas serão poupados. Então que fique o aviso à concorrência: esta é a chance.

Equilíbrio entre os elencos
A concorrência contra Muricy, aliás, deve ser particularmente grande em 2011. Os diversos candidatos ao título a que ele se refere parecem hoje correr lado a lado, com elencos caros e amplos para os longos nove meses que se seguem. O equilíbrio que é a marca do atual campeonato começou, no entanto, a ser modelado ainda no encerramento da última temporada, quando boa parte dos grandes clubes conseguiu evitar a debandada em excesso de estrelas para o exterior. Se houve exceções com a venda de jogadores como Jonas, Giuliano, Elias, Jucilei entre outros, a manutenção da base de 2010 em muito dos casos foi comemorada por dirigentes e torcedores.

Some-se isso ao momento econômico favorável e o resultado foi a formação de elencos mais fortes, recheados de nomes badalados ou com passagens por clubes europeus ou seleções nacionais. À lista de contratações impactantes de 2011 que já continha Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves (Flamengo), Elano (Santos), e Liédson (Corinthians), juntaram-se outras como as de Luís Fabiano (São Paulo), Adriano e Alex (Corinthians), Juninho Pernambucano (Vasco), Mancini (Atlético-MG) ou Brandão (Cruzeiro), todos vindos do exterior e com maior ou menor investimento.

Outro motivo para o aumento do número de reais aspirantes foi o surgimento e consolidação de revelações dos últimos meses. Enquanto Neymar e Paulo Henrique Ganso ganhavam títulos, fama e despontavam na Seleção, o Santos se reforçava graças à evolução de Alan Patrick (20 anos) e Danilo (19). O São Paulo, por sua vez, vê em Lucas (18), destaque no Sul-Americano Sub-20, sua maior esperança de crescimento mesmo que ainda aposte na recuperação de Luís Fabiano. Quem também quer aproveitar a ótima fase de suas jovens estrelas é o Inter, que têm em Leandro Damião (21) e Oscar (19 anos) o pulmão e a inspiração necessárias para ir longe. Outros jovens talentos para se acompanhar de perto: Casemiro (São Paulo), Renan (Avaí), Diego Maurício (Flamengo) e Leandro (Grêmio).

De todos os lados
Em 2011, o Brasileirão apresenta uma maior descentralização de seus integrantes, ao menos nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo, junto do Rio de Janeiro, ainda segue o Estado com mais representantes, com quatro, mas perdeu dois em relação ao ano passado (Grêmio Prudente e Guarani), enquanto Minas Gerais, com o América, Paraná, com o embalado Coritiba, e Santa Catarina, com o Figueirense, ganharam mais um.

O certo, porém, é que independentemente de sua latitude ou longitude, esses times sabem que, para chegar ao título, terão de passar por Muricy Ramalho.

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