Quando Josef Masopust fez o check-in em um hotel de Santiago em 1962, viu que o seu nome e sobrenome estavam errados. Totalmente compreensível, já que o meio-campista tchecoslovaco desembarcou no Chile como um desconhecido para a disputa da Copa do Mundo da FIFA.

Por outro lado, a situação já era bem diferente na hora de voltar para Praga, pois ele havia entrado para o panteão dos grandes craques da história do futebol ao levar um selecionado de pouca expressão até a decisão do Mundial. Mais do que isso, chegara a abrir o placar na decisão contra o Brasil de Garrincha e ameaçar o bicampeonato da seleção canarinho.

Naquela final, gols de Amarildo, Zito e Vavá varreram a zebra da Europa Central, mas o jogador nascido no vilarejo de Strimice já havia feito o suficiente para que ninguém mais ousasse grafar o seu nome como Joseph Masapost. Elogiado por craques como Pelé, Puskás e Djalma Santos, ele terminou o ano conquistando a tradicional premiação da Bola de Ouro de melhor jogador europeu, à frente do português Eusébio.

De inimigo público a ídolo nacional
O ano de 1962 foi apenas o auge de uma longa e excepcional carreira. Primogênito de seis irmãos, nascido em 1931 e criado em uma residência modesta perto da fronteira com a Alemanha, Masopust se apaixonou pelo futebol ao bater bola tendo como pano de fundo as pitorescas cadeias montanhosas da região. Ele sempre sonhou em defender o seu país em uma Copa do Mundo da FIFA, mas chegou a temer pelo seu desejo com a invasão do exército alemão em 1938.

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, Masopust entrou para a equipe infantil do Uhlomost, atual Baník de Most. Incansável, inteligente e apto na marcação, ele era um jovem gênio da bola, especialista no drible e em passes em profundidade. Poucos anos depois, o garoto de 18 anos foi indicado por um dos seus técnicos ao Teplice, da primeira divisão, que mandou um olheiro para observá-lo.

Masopust pensava que só ganharia um período de testes, mas acabou assinando contrato. Porém, não ficou muito tempo no Teplice. O ATK, que passaria a se chamar Dukla em 1956, decidiu que queria contar com a grande promessa do futebol tchecoslovaco. E nem precisou pedir — afinal, era a equipe oficial do exército do país comunista.

Diferentemente de outros clubes, que precisavam começar nas ligas regionais para chegarem à elite, o ATK ganhou vaga cativa na primeira divisão ao ser fundado em 1948. Além disso, podia escolher os jogadores que quisesse, já que nenhum outro time do país se recusaria a cedê-los.

A situação causava revolta entre a comunidade do futebol. Obviamente, os torcedores do Sparta e do Slavia, maiores equipes da capital Praga, detestavam o ATK. Como consequência, Masopust virou uma espécie de inimigo público. Exceto, é claro, para a torcida do próprio ATK. Foi com Masopust e com o também inesquecível Svatopluk Pluskal que o clube conquistou oito títulos nacionais entre 1953 e 1966.

O Dukla também teve êxitos internacionais, mas com pouca divulgação. Em 1961, chegou à final da International Soccer League, um torneio disputado nos Estados Unidos com times como Estrela Vermelha, Rapid de Viena, Monaco e Espanyol. Na decisão, massacrou o Everton com vitórias por 7 a 2 e 2 a 0. Nos três anos seguintes, conquistou também nos EUA a American Challenge Cup, torneio em jogo único contra o campeão da última edição da ISL.

Além disso, Masopust levou a melhor contra Pelé em um confronto entre Dukla e Santos válido por um torneio amistoso no México em 1959, aterrorizando o time brasileiro com dribles em ziguezague e marcando dois gols. "Não importa quem fosse o adversário, ele sempre se destacava", afirmou Pluskal. "Ele nunca perdia a bola, sempre com passes curtos e tabelinhas até aparecer um espaço, e então partia, passava por um, por dois, por três, passava por todo mundo como se fossem cones em um campo de treinamento. Ele foi um jogador incrível."

A fama internacional
Embora o sucesso do Dukla tivesse feito de Masopust uma celebridade no seu país, ele permanecia pouco conhecido em outros lugares. A situação mudou categoricamente no Chile. A Tchecoslováquia tinha sido eliminada na primeira fase em 1958 e teria adversários bem mais difíceis quatro anos depois — o Brasil tinha Garrincha e Pelé no auge, e a Espanha do treinador Helenio Herrera contava com José Santamaría, Francisco Gento, Luis Suárez e o húngaro naturalizado Ferenc Puskás.

"Chegaram a dizer que nem deveríamos desfazer as malas porque iríamos para casa depois da primeira fase", relembrou o craque tchecoslovaco. Não foi bem o que aconteceu. Logo na estreia, a Espanha foi surpreendida pelo bom futebol do selecionado da Europa Central. Após um grande passe em profundidade de Masopust, Josef Stibranyi marcou o único gol da partida.

"Fiquei surpreso ao ver como ele era completo", admitiu Puskás. "Luis del Sol era um dos melhores meio-campistas na hora de desarmar ataques, Suárez era um gênio nos passes em profundidade e Paco Gento era fantástico ao partir para cima dos laterais. Mas Masopust fazia tudo: recuperava a bola, tocava, conduzia e aparecia na área. Era um jogador excepcional."

Na partida seguinte, Masopust conseguiu anular Didi e ajudar a sua seleção a segurar o empate em 0 a 0 com o Brasil. Além disso, deu um grande exemplo de fair play. Pelé havia se lesionado, mas, como substituições ainda não eram permitidas, precisou continuar em campo até o fim. Quando recebeu um passe, o Rei estava tão mal que Masopust poderia ter roubado a bola facilmente. Com muita elegância, o dono da camisa 6 se recusou a chegar no adversário.

"Masopust foi um dos maiores jogadores que já vi, e nunca vou me esquecer daquele gesto", disse Pelé posteriormente. "Foi muito bonito ver o respeito que ele demonstrou", concordou Djalma Santos. "Ele mostrou respeito não só pelo Pelé, mas pela seleção. Foi um grande jogador e, mais do que isso, um cavalheiro."

Apesar da derrota por 3 a 1 diante do México no último jogo do grupo, a Tchecoslováquia se classificou às quartas de final, ocasião em que Masopust foi o maior destaque da vitória de 3 a 1 sobre a Iugoslávia, então vice-campeã europeia. Nas semifinais, a vítima foi a Hungria, o que garantiu um tira-teima contra o Brasil na final.

Masopust abriu o placar para os azarões na grande decisão, mas o selecionado do endiabrado Garrincha não demorou a responder e venceu por 3 a 1. "Com aqueles dribles explosivos, ele não deveria ser europeu, mas brasileiro", brincou Pelé após a final. "O Brasil jogou melhor, mas certamente o Masopust não merecia estar na equipe derrotada."

Individualmente, Masopust também teve de se contentar com a prata, já que o prêmio de melhor jogador do Mundial acabou indo para Garrincha. No entanto, o ouro não tardou a chegar às suas mãos. No mesmo ano, ele foi eleito o melhor jogador europeu. Mais de 40 anos depois, foi escolhido pela UEFA o "Jogador de Ouro" da história do futebol tcheco. Quando chegou a hora de gravar o nome de Josef Masopust no troféu, ninguém precisou perguntar qual era a grafia certa.

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