Será uma retrospectiva diferente. De hoje até o último dia do ano, você
vai reencontrar pessoas que cruzaram o caminho do Superesportes em 2013.
Histórias que voltam a ocupar estas páginas para conduzir as lembranças
dos fatos mais relevantes do ano, temperadas com algumas informações
dos bastidores da notícia. A retrospectiva começa com a parte lamentável
do ano: a violência nos estádios que atingiu o seu ápice em 2013,
véspera da Copa. Uma história que, enfim, parece encaminhar-se para um
desfecho positivo, com medidas efetivas das autoridades, dos clubes, da
sociedade no combate às organizadas. Um final feliz, como o da história
de Lucas Lyra, o alvirrubro baleado na cabeça em 16 de fevereiro na
frente dos Aflitos.
O milagre da vida
A
primeira notícia que chegou de Lucas Lyra à redação do Superesportes
veio sem nome, sobrenome e esperança. Numa noite de sábado, algumas
rádios e sites noticiavam a morte de um torcedor em frente aos Aflitos,
baleado na cabeça. O zelo em repassar a informação correta misturou-se à
torcida para que a história real não fosse esta. As confirmações diziam
o contrário. Sim, um garoto havia sido baleado na cabeça em frente aos
Aflitos após um conflito entre “torcidas” organizadas. Informação que
chegou junto com um nome, Lucas, e uma esperança: ele não havia morrido.
A
última notícia de Lucas Lyra que chegou ao Superesportes é o avesso da
falta de esperança dos dias seguintes à tragédia. Imaginar que o jovem
de 19 anos passaria o Natal junto com a família, consciente e falando,
era imaginar um milagre. Que aconteceu e está acontecendo. “Já ganhei o
meu presente de Natal: a minha vida e minha voz de volta. Melhor
impossível”, afirmou na entrevista concedida ao repórter João de Andrade
Neto no último dia 13.
Lucas vai passar o dia do Natal no
hospital, com a mãe Cristina Lyra, a irmã, Mirella, e o irmão caçula,
Joel. Ainda não tem previsão de alta. Mas não tem pressa. Sabe que o
mais importante ele já conseguiu. E pensa em voltar a acompanhar o time
do coração nos estádios. Espera encontrá-los livre da violência. O
caminho, enfim, parece ser esse.
O “basta” no último ato
Não foi só em
Pernambuco que a violência dividiu os holofotes com o futebol. Foi um
ano marcado pela violência, sempre protagonizada pelas facções
organizadas. Estima-se que o número de mortes neste ano seja próximo de
30. Violência que não ficou restrita ao território brasileiro. Em 20 de
fevereiro, o adolescente Kevin Espada morreu em Oruro, na Bolívia, ao
ser atingido por um sinalizador disparado pela torcida do Corinthians.
Doze torcedores foram presos, dos quais cinco deles permaneceram até
julho.
As organizadas seguiram desfilando seu repertório de
selvageria e intolerância na avenida da impunidade brasileira até a
última rodada da Série A. A barbárie protagonizada por torcedores de
Atlético-PR e Vasco na Arena Joinville, transmitida ao vivo para o mundo
inteiro, chocou.
Apesar de alguns dirigentes insistirem na
defesa das organizadas, pela primeira vez há um movimento radical das
autoridades e sociedade contra a violência. As prisões realizadas pela
polícia, a quebra do contrato de patrocínio da Nissan com o Vasco e a
decisão do Cruzeiro de proibir a organizada celeste de utilizar o escudo
do clube são passos que contribuem para o combate a esse quadro
crítico. Que as imagens sigam vivas na lembrança e as atitudes continuem
firmes em 2014. É o que desejamos.
A operação Cartão Vermelho
A
ação foi realizada na semana passada em conjunto pelas polícias de
Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paraná para cumprir 28 mandados de
prisão contra pessoas envolvidas na confusão - 19 atleticanos e nove
vascaínos. Entre os detidos, duas prisões são emblemáticas. Juliano
Borghetti, ex-vereador de Curitiba, entregou-se à polícia. A outra é de
Willian Batista da Silva, 19 anos. Ele foi o torcedor socorrido pelo
helicóptero da Polícia Militar. Sofreu traumatismo craniano e ficou
cinco dias internado. Na mesma semana em que recebeu alta foi preso. As
imagens do confronto, que estão servindo para a polícia identificar os
torcedores da confusão, mostraram ele no meio da confusão, dando murros e
pontapés.
O incidente
Lucas foi baleado em 16 de fevereiro
durante uma confusão ocorrida quando um ônibus com torcedores do Sport
passava em frente aos Aflitos. Os rubro-negros saíam do jogo contra o
Campinense, pelas quartas de final da Copa do Nordeste - o time tinha
sido eliminado. Os alvirrubros estavam nos Aflitos para assistir ao jogo
contra o Central, pela penúltima rodada do primeiro turno. Os
torcedores do Náutico teriam arremessado alguns objetos contra o ônibus,
o que gerou uma reação, que teve a intervenção de “seguranças”
contratados pela empresa Pedrosa para fazer a escolta dos ônibus. Um
deles estaria agredindo um primo de Lucas com o cabo do revólver 38. A
vítima teria partido para cima do agressor.
Reação isolada
O
episódio gerou uma reação imediata das autoridades locais. O caso foi
tratado como prioridade pela Secretaria de Defesa Social (SDS). O autor
do tiro foi identificado e detido quatro dias depois. O controlador de
tráfego da empresa Pedrosa José Carlos Feitosa Barreto, 37 anos, foi
preso. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público de Pernambuco
(MPPE) em 13 de março. Em 4 abril, a denúncia foi aditada com a inclusão
de mais três acusados: Antero Frederico Mota Parahyba, diretor da
empresa Pedrosa; Edmar Marcolino da Silva, sócio da Pedrosa; Lourival
Tadeu Bandeira de Melo, responsável pela contratação dos seguranças da
empresa. As medidas de combate às organizadas, no entanto, não foram
levadas adiante e a violência continuou a fazer parte do futebol na
temporada.
Números
12
quantidade de jogos que o Atlético-PR terá que cumprir alguma punição em 2014.
R$ 140 mil
multa aplicada ao Atlético-PR
8
quantidade de jogos que o Vasco terá que cumprir alguma punição em 2014.
R$ 80 mil
multa aplicada ao Atlético-PR
Episódios
14/4
Fortaleza x Ceará
Longe da Arena Castelão, num encontro entre as torcidas dos dois times, dois torcedores do Ceará foram mortos.
25/8
Vasco 1 x 1 Corinthians
As organizadas de Vasco e Corinthians protagonizaram cenas de violência e vandalismo. As duas equipes perderam mando de campo.
13/10
São Paulo 0 x 0 Corinthians
As
torcidas de São Paulo e Corinthians entraram em confronto nas
arquibancadas. Fora do Morumbi, mais confusão. Os clubes foram punidos
com perda de mandos de campo.
Superesportes
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