quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sem salário digno, ex-jogadora deixa o Galo para trabalhar no Mineirão

Por GLOBOESPORTE.COM Belo Horizonte

Os problemas financeiros sempre foram muitos. Os contratempos, maiores ainda. Mas alguma coisa, talvez uma mistura de destino e predestinação, não deixou que Bárbara Fidélis, de 18 anos, se afastasse do futebol. A sua história não é muito diferente da de milhares de jovens brasileiros que sonham em trabalhar dentro das quatro linhas. A situação, porém, tornou-se muito mais difícil ainda pelo simples fato de o futebol feminino não ser valorizado no Brasil.

Tudo bem que essa jovem não está ligada ao mundo da bola do jeito que queria, mas, de uma forma ou de outra, está inserida na reforma de um dos principais palcos do futebol brasileiro, o Mineirão, em Belo Horizonte. E, claro, ficar pertinho do “Gigante da Pampulha” alimenta os sonhos de voltar a atuar profissionalmente. Afinal, seria apenas coincidência o fato de a ex-atacante ter conseguido o primeiro emprego, com carteira assinada, justamente no canteiro de obras do estádio?

Da passagem de ônibus à carteira assinada

Bárbara, atleticana fanática, começou a jogar bola aos 14 anos. Ficou no Atlético-MG até pouco antes de atingir a maioridade. Mas o salário não permitiu que ela continuasse. Salário, na verdade, é força de expressão.

- Fiquei lá por cerca de três anos e meio. Comecei com quase 15 anos, quando subi para o time A. Quando a equipe começou a receber patrocinador, dispensaram algumas meninas e chamaram outras de São Paulo. Fiquei sentida porque fiquei três anos com elas, só recebendo passagem. Mas aqui no Brasil é assim mesmo.

Para ajudar a família, o sonho de jogar ficou de lado, forçosamente interrompido. Bárbara teve que correr atrás de um emprego certo, com salário fixo e com todas as garantias possíveis. Ela só não imaginava que o local de trabalho seria aquele onde ela vibrou, chorou e sorriu ao ver o time do coração jogar.

- Minha tia trabalha aqui na obra. E ela uma vez disse que tinha serviço. Fiz a integração, mas não pude entrar porque era menor de idade. Aí fiz 18 anos, e apareceu nova oportunidade no Mineirão. Fiz os exames, mas falaram que não contratariam mais mulheres para a obra. Passou um tempo, e minha tia arrumou outro emprego aqui. Como o serviço não seria fácil, me advertiram que teria que ficar no sol quente, de um lado para o outro, com muita poeira. Falei que não tinha problema, porque já fazia isso quando jogava futebol. Sou atleta.

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