Há 19 anos, Andoni Zubizarreta adentrou o gramado do lendário Estádio de Wembley, de luvas e chuteiras, e fez história com o Barcelona. No próximo sábado, ele retornará ao reformado palco inglês para assistir a mais uma final da Liga dos Campeões da UEFA sonhando em reviver aquela mesma alegria, mas desta vez da tribuna e vestido de terno e gravata, como exige o cargo de diretor esportivo do clube catalão.
"Por um lado, me sinto tranquilo, porque o time está bem, conseguimos ganhar o Campeonato Espanhol e isso nos deixou satisfeitos; por outro, me sinto contentíssimo por estar em outra final, contra uma equipe da grandeza do Manchester United e em um lugar tão mítico como Wembley", conta Zubizarreta ao FIFA.com.
"Embora o Wembley não seja o nosso estádio, ele está ligado à história do Barça. Mas o seu simbolismo não me deixa nem mais e nem menos entusiasmado, porque uma final de Liga dos Campeões é um desafio suficiente por si só", acrescenta o goleiro do Barcelona que, em 1992, venceu a Sampdoria por 1 a 0 e conquistou a competição pela primeira vez na história. O gol de falta que definiu o jogo saiu dos pés de Ronald Koeman, mas as intervenções de Zubi também foram fundamentais para o título. "Lembro de uma defesa em um chute de Attilio Lombardo no primeiro tempo, que, em um jogo como aquele, de poucas chances de gol, poderia ter sido decisivo. Mas, enfim, o que marcou foi o 1 a 0 que nos valeu a vitória."
Um golaço que Zubizarreta só viu depois da partida. "Numa prorrogação, o goleiro não vê quase nada", diz ele, aos risos, recordando a tensão e a concentração daquele momento. "Eu não vi a bola entrar, vi o chute e ouvi o grito de alegria dos jogadores e da torcida, que foi o que me fez vibrar. E eu era daqueles goleiros de antigamente, que comemoravam sozinhos, abraçando a si mesmos, então tive que esperar o fim do jogo para comemorar com os meus companheiros."
Continuidade e comunhão
Zubizarreta subiu os 39 degraus da tribuna de Wembley atrás do capitão Alexanco e seguido por um jovem chamado Josep Guardiola, que no próximo sábado terá um papel bem diferente. "Aquele Guardiola era um garoto que estava apenas começando no futebol de alto nível. Era como um destes jovens que hoje em dia já iniciam a carreira no time titular. Ele participou ativamente daquela conquista histórica. Desde então, cresceu, aprendeu e contribuiu para o futebol com a sua maneira especial de enxergar o jogo. Hoje, ele está fazendo o seu clube de coração ainda maior. Trabalha duro e dá mais beleza ao futebol. É muito dedicado ao que faz, como sempre foi por onde passou. Mas eu nunca teria dito que ele acabaria sendo treinador", explica o ex-goleiro.
O técnico é um dos elementos em comum entre as duas finais, assim como o sobrenome Busquets. Em 1992, quem o carregava era o goleiro reserva, Carles. Este ano, será o seu filho, o volante Sergio. "Isso é uma prova da filosofia de continuidade do Barcelona, que é um clube que gosta da prata da casa, que procura os seus jogadores na vizinhança. É isso que nos faz diferentes", analisa Zubizarreta. "Há muitos anos, o clube se mantém fiel a seu estilo, desde Kubala (atacante húngaro que jogou no Barcelona nos anos 1950), passando pelo Barça das cinco copas (em referência à equipe que conquistou cinco títulos na temporada 1951/52), sempre com um futebol de toque de bola, com jogadores criados na base, que entendem esse estilo de jogo desde pequenos. Assim, se cria um sentimento de pertencimento ao que é o Barcelona. Aqueles que vêm de fora para contribuir com talento são igualmente importantes e também participam dessa comunhão e se envolvem nessa filosofia. O vínculo que une a todos é a paixão pelo bom futebol."
Duelo de titãs
Uma paixão que assemelha também os dois candidatos à coroa europeia deste ano. "Será uma grande partida, teremos pela frente uma equipe muito competitiva, dona de uma história riquíssima", prevê Zubi, que ri ao ser indagado sobre a receita para a vitória. "Essa é a grande pergunta antes de qualquer final. Você precisa ser capaz de fazer o seu jogo, mas sempre estará condicionado pelo adversário. Não dá para dominar os 90 minutos, mas é isso que faz o futebol ser bonito: a incerteza, as surpresas, os detalhes... que até o Messi seja capaz de marcar um gol de cabeça", brinca, em referência à cabeçada certeira do argentino na vitória por 2 a 0 sobre os Diabos Vermelhos há dois anos em Roma.
"Uma final dessa magnitude é sempre algo único e especial. Não existe favoritismo, um rótulo que, aliás, não dá nenhuma vantagem ou gol para ninguém", ressalta o goleiro, antes de concluir. "Mas fomos bem em uma temporada muito intensa, de enorme sacrifício para um time com tantos jogadores que haviam sido campeões mundiais em julho. Felizmente, eles não acusaram esse esforço e jogaram no nível máximo, chegando a todas as finais. Isso é uma prova da competitivade desta equipe."
FIFA
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